15 de dezembro de 2009

Apresentações, você provavelmente está fazendo errado

No mundo acadêmico eu vejo com muita frequência apresentações digitais, usando um slideware (Powerpoint, Keynote, etc) e um datashow. Os assuntos podem ser os mais variados e os apresentadores também, as vezes são alunos ou professores ou outros profissionais experientes. Sabem o que essas apresentações tem em comum? A maioria delas são uma droga. Claro que existem exceções, já vi apresentações brilhantes e outras regulares, mas a grande parte delas faz os espectadores pensarem apenas no horário que eles vão poder sair e ir embora. Triste, porém verdade, e acredito que isso ocorra também fora das universidades.

O grande problema está no formato das apresentações, criou-se uma ideia de que existe apenas uma forma de fazer slides e que não se pode desviar muito da receita moldada pelos slidewares. O agravante é que o senso comum tem uma visão praticamente toda errada sobre como fazer apresentações digitais. Você acha que está acertando, mas na verdade está piorando cada vez mais.

Bullet points! Quantas apresentações você já viu sem eles? Poucas. Pois é isso que aparece quando se cria um novo slide no Powerpoint e é isso que dá um visual sério e profissional a apresentação. Cada ponto deve conter uma frase com o assunto que o apresentador deve falar, assim ele lembrará o que tem que dizer e a plateia acompanhará mais facilmente a apresentação.

Ilusão.

A maioria das apresentações sérias e profissionais além de chatas falham no seu principal objetivo. Passar uma mensagem! Isso que deveria acontecer numa apresentação. Os espectadores deveriam sair com alguma coisa nova na cabeça diferente do sentimento de tempo perdido por assistir uma apresentação ruim. Repetir tudo que o apresentador fala nos slides não vai garantir uma melhora na comunicação, muito pelo contrário, isso atrapalha.

Não vou parar para citar problemas e soluções para apresentações, existem pessoas muito mais capacitadas do que eu nessa área e que já escreveram bastante sobre isso. Quem conhece o blog Presentation Zen e também o livro com o mesmo nome (existe uma versão em português) escrito pelo Garr Reynolds ou o livro da Nancy Duarte e os trabalhos da Duarte Design deve ter percebido facilmente que minhas ideias são inspiradas neles. Se quiserem saber mais como melhorar suas apresentações vale muito a pena ler o blog e livros citados.

Vou focar apenas no ponto a seguir. O apresentador é você e a atenção deve ser voltada para você. Os slides auxiliam a apresentação fazendo com que sua mensagem seja passada mais eficientemente. O que normalmente acontece é o contrário. A atenção é voltada para os slides, o apresentador apenas lê o texto contido nele (todos são alfabetizados na sua plateia?) e eventualmente faz um comentário. Esses slides não ajudam em nada a plateia, eles acabam sendo feitos para o apresentador recordar o que tem que falar. Lembre-se a apresentação é para o público.

Na teoria parece fazer sentido, mas e na prática? Como uma apresentação "diferente" é recebida por quem está assistindo e talvez te avaliando?

A algum tempo eu comecei a criar apresentações menos convencionais, tomando como objetivo principal a ideia citada acima e usando técnicas aprendidas principalmente com os textos do Garr Reynolds. Resultado? Quanto mais eu fugia do "normal" e do "sério" mais as pessoas gostavam das minhas apresentações.

Eu fiquei surpreso com minha primeira apresentação em que fugi totalmente do padrão. Ela tinha muitas fotos, algumas frases com fonte grande, vídeos, um apelo visual forte e nenhum bullet point. No final as pessoas me elogiaram, vinham falar comigo pessoalmente e eu percebia que elas realmente tinham gostado, não era apenas por educação. As pessoas não costumavam elogiar minhas apresentações daquela forma, tinha algo diferente.

Eu fiquei muito feliz com isso, você sente que seu esforço foi reconhecido (eu não disse que seria fácil), e me fez perceber que sair do convencional nas apresentações dava resultado.

E não foi só dessa vez que isso aconteceu e nem só comigo. Já ouvi amigos falando que tentaram usar a mesma abordagem que eu ou pelo menos algo parecido, mesmo com receio das pessoas não gostarem de ver slides "não-sérios", e os resultados obtidos foram ótimos, no final todos gostaram e elogiaram.

Perceber que você está indo bem não se resume apenas ao final da apresentação. Quando você está na frente de uma plateia é possível ver o rosto de várias pessoas e ouvir suas reações. Muitas vezes eu já presenciei alguém sorrindo discretamente surpreso com algo diferente e que prendia tanto a atenção.

Tentem algo diferente, leiam sobre apresentações, assistam boas apresentações (Steve Jobs, TED talks, etc.) e o mais importante se preparem. Fazer apresentações mais eficazes não é mais fácil, muito pelo contrário, é mais difícil. É mais difícil fazer bons slides, é mais difícil se preparar para uma apresentação onde não se tem uma "cola" nos bullet points, é mais difícil se preocupar com a plateia ao invés de com você. Entretanto todo esse trabalho extra é convertido numa apresentação muito melhor, que os espectadores vão gostar de assistir e que vai fazer eles aprenderem algo. Numa apresentação o que você precisa é que as pessoas na plateia entendam suas ideias como você entende.

7 comentários:

  1. perfect =D
    suas apresentaçoes (as poucas que vi) sao otimas

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  2. Olá, gostaria de dizer que concordo com vc. Seria bem menos massante se todos ousassem mais em suas apresentações. Ocorre que muitos usam os slides para "documentar" algo, e aí a apresentação perde sentido. Fiz minha própria apresentação do TCC num formato mais ousado e dinâmico que o convencional e fui muito bem recebido pela banca, fechando com chave de ouro (nota 10) um longo trabalho.

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  3. Apresentações dinâmicas realmente são a solução. Uma vez fiz uma com uma espécie de estória em quadrinhos, inspirado na apresentação do Google Chrome e no Luli Radfahrer, com um personagem que interagia comigo, como se fosse um espectador da apresentação. O resultado foi muito bom.

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  4. Yuri,

    é bom ressaltar que a maioria das pessoas também não sabem ver uma apresentação, pois voltam suas atenções para os slides e não para o apresentador, que deveria ser o centro das atenções, julgando a qualidade da apresentação pela qualidade do ppt.

    Isto à parte, penso que o real problema passa longe de serem os slides em si. Os principais pontos, no meu entendimento, são imperícia e despreparo do apresentador em quase todos os casos. Imperícia por não ter boa didática e oratória; despreparo por não dominar o conteúdo.

    Sempre houve bons e maus oradores. Bons oradores conseguem falar em público com sucesso mesmo com slides ruins. Vi um exemplo no evento Agilidade na Prática, onde uma palestra foi excepcional com slides powerpoint padrão: bullets, bullets e mais bullets. Uma apresentação de um mau orador será ruim mesmo com lindos slides da Duarte, porque o apresentador é ruim.

    Apresentações à la Reynolds e Duarte necessitam de bom conhecimento sobre o que será apresentado, portanto há naturalmente maior preparação do apresentador porque o estilo deles de apresentar exigirá isto, uma vez que não há "colas". Se quiser, faça o seguinte experimento: prepare uma apresentação segundo a cartilha dos já citados; imprima-a; apresente sem datashow usando a impressão como guia. O resultado será basicamente o mesmo porque você se preparou para conversar com seu público.

    Outra questão é o tipo de apresentação e seu respectivo tipo de mídia necessário. As apresentações que você citou são quase todas palestras para vender algo, conscientizar alguém sobre algum assunto ou narrações de histórias, onde o modelo proposto encaixa-se muito bem. Entretanto penso que nenhum tipo de apresentação será mais eficaz que o quadro-negro para ensinar cálculo, lógica ou até compiladores para citar um exemplo meu recente. Há casos e casos.

    Digo isto porque o contexto citado por ti é basicamente o acadêmico, que possui um dinâmica em sala de aula bem diferente de uma palestra em um auditório. Uma diferença crucial são interrupções. Perceba que as apresentações não possuem interrupções da platéia enquanto estão sendo proferidas, diferentemente de uma sala de aula. Por isto são apresentações, não aulas, e vice-versa. Uma diferença radical para os dois lados, uma vez que o ritmo é importante para uma apresentação, enquanto que interrupções são necessárias para aulas.

    Outra diferença notável é o ambiente: desfavoráveis salas de aula de universidades contra auditórios com acústiva (e caixas de som) das apresentações do TED, por exemplo. Aluno conversando na última fila também atrapalha.

    Infelizmente, o que mais vemos é a pior combinação possível no meio acadêmico: professores com didática ruim, despreparados e com péssimas apresentações. Desastre total.

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  5. @Raphael Valeu :D

    @Gazineu Usar slides como documentação é um problema. Para documentar deveria ser usado um material impresso, não os slides. Bom saber que mesmo uma banca gostou da sua apresentação e te deu um 10.

    @Edson Deve ter sido interessante. Eu já vi uma apresentação muito boa do Luli no Descolagem, ele realmente manda bem.

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  6. @Alan que comentário gigante :P vamos por partes.

    Concordo com quase tudo que você falou, vou comentar alguns pontos.

    O apresentador e os slides influenciam na maneira das pessoas assistirem uma apresentação.
    O que acontece é que se o apresentador foca demais nos slides, lendo e toda hora se referindo a eles, todos que estão assistindo vão ser levados a prestar mais atenção nos slides. Isso se agrava ainda mais se ele for um mau orador. Na minha opinião a culpa não é só de quem assiste, o apresentador deveria conseguir cativar o máximo de pessoas possível. Claro que o espectador tem que querer assistir também.

    Quando eu falei apresentações acadêmicas eu não me referi especificamente a aulas. Elas podem sim se encaixar em muitos aspectos das apresentações que querem vender, conscientizar, etc. Afinal você está passando uma mensagem também. Entretanto eu concordo que depende muito do que você precisa passar para o público. Slides não são essenciais para uma boa apresentação. O apresentador deve usar o que for melhor para sua performance, inclusive ele pode escolher não usar nada.

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  7. Exatamente, a culpa é de ambos. Frisei o expectador no início porque ele quase nunca é criticado.

    De resto, exceto pelas minhas ressalvas, concordo com o que você escreveu.

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