No mundo acadêmico eu vejo com muita frequência apresentações digitais, usando um slideware (Powerpoint, Keynote, etc) e um datashow. Os assuntos podem ser os mais variados e os apresentadores também, as vezes são alunos ou professores ou outros profissionais experientes. Sabem o que essas apresentações tem em comum? A maioria delas são uma droga. Claro que existem exceções, já vi apresentações brilhantes e outras regulares, mas a grande parte delas faz os espectadores pensarem apenas no horário que eles vão poder sair e ir embora. Triste, porém verdade, e acredito que isso ocorra também fora das universidades.
O grande problema está no formato das apresentações, criou-se uma ideia de que existe apenas uma forma de fazer slides e que não se pode desviar muito da receita moldada pelos slidewares. O agravante é que o senso comum tem uma visão praticamente toda errada sobre como fazer apresentações digitais. Você acha que está acertando, mas na verdade está piorando cada vez mais.
Bullet points! Quantas apresentações você já viu sem eles? Poucas. Pois é isso que aparece quando se cria um novo slide no Powerpoint e é isso que dá um visual sério e profissional a apresentação. Cada ponto deve conter uma frase com o assunto que o apresentador deve falar, assim ele lembrará o que tem que dizer e a plateia acompanhará mais facilmente a apresentação.
Ilusão.
A maioria das apresentações sérias e profissionais além de chatas falham no seu principal objetivo. Passar uma mensagem! Isso que deveria acontecer numa apresentação. Os espectadores deveriam sair com alguma coisa nova na cabeça diferente do sentimento de tempo perdido por assistir uma apresentação ruim. Repetir tudo que o apresentador fala nos slides não vai garantir uma melhora na comunicação, muito pelo contrário, isso atrapalha.
Não vou parar para citar problemas e soluções para apresentações, existem pessoas muito mais capacitadas do que eu nessa área e que já escreveram bastante sobre isso. Quem conhece o blog
Presentation Zen e também
o livro com o mesmo nome (existe uma
versão em português) escrito pelo Garr Reynolds ou o
livro da Nancy Duarte e os trabalhos da
Duarte Design deve ter percebido facilmente que minhas ideias são inspiradas neles. Se quiserem saber mais como melhorar suas apresentações vale muito a pena ler o blog e livros citados.
Vou focar apenas no ponto a seguir. O apresentador é você e a atenção deve ser voltada para você. Os slides auxiliam a apresentação fazendo com que sua mensagem seja passada mais eficientemente. O que normalmente acontece é o contrário. A atenção é voltada para os slides, o apresentador apenas lê o texto contido nele (todos são alfabetizados na sua plateia?) e eventualmente faz um comentário. Esses slides não ajudam em nada a plateia, eles acabam sendo feitos para o apresentador recordar o que tem que falar. Lembre-se a apresentação é para o público.
Na teoria parece fazer sentido, mas e na prática? Como uma apresentação "diferente" é recebida por quem está assistindo e talvez te avaliando?
A algum tempo eu comecei a criar apresentações menos convencionais, tomando como objetivo principal a ideia citada acima e usando técnicas aprendidas principalmente com os textos do Garr Reynolds. Resultado? Quanto mais eu fugia do "normal" e do "sério" mais as pessoas gostavam das minhas apresentações.
Eu fiquei surpreso com minha primeira apresentação em que fugi totalmente do padrão. Ela tinha muitas fotos, algumas frases com fonte grande, vídeos, um apelo visual forte e nenhum bullet point. No final as pessoas me elogiaram, vinham falar comigo pessoalmente e eu percebia que elas realmente tinham gostado, não era apenas por educação. As pessoas não costumavam elogiar minhas apresentações daquela forma, tinha algo diferente.
Eu fiquei muito feliz com isso, você sente que seu esforço foi reconhecido (eu não disse que seria fácil), e me fez perceber que sair do convencional nas apresentações dava resultado.
E não foi só dessa vez que isso aconteceu e nem só comigo. Já ouvi amigos falando que tentaram usar a mesma abordagem que eu ou pelo menos algo parecido, mesmo com receio das pessoas não gostarem de ver slides "não-sérios", e os resultados obtidos foram ótimos, no final todos gostaram e elogiaram.
Perceber que você está indo bem não se resume apenas ao final da apresentação. Quando você está na frente de uma plateia é possível ver o rosto de várias pessoas e ouvir suas reações. Muitas vezes eu já presenciei alguém sorrindo discretamente surpreso com algo diferente e que prendia tanto a atenção.
Tentem algo diferente, leiam sobre apresentações, assistam boas apresentações (Steve Jobs, TED talks, etc.) e o mais importante se preparem. Fazer apresentações mais eficazes não é mais fácil, muito pelo contrário, é mais difícil. É mais difícil fazer bons slides, é mais difícil se preparar para uma apresentação onde não se tem uma "cola" nos bullet points, é mais difícil se preocupar com a plateia ao invés de com você. Entretanto todo esse trabalho extra é convertido numa apresentação muito melhor, que os espectadores vão gostar de assistir e que vai fazer eles aprenderem algo. Numa apresentação o que você precisa é que as pessoas na plateia entendam suas ideias como você entende.